terça-feira, 10 de novembro de 2015

Um pouco sobre inspiração

Entre uma porção de livros usados, encontrei um chamado: Psicologia Educacional, de George J. Mouly. Foi publicado no Brasil em 1966 e a versão original é um pouco mais antiga, de 1960. Uma obra com mais de cinquenta anos inevitavelmente torna-se defasada, mesmo que em parte... entretanto, algumas coisas nela talvez ainda sejam válidas.

Uma delas é uma parte do livro, infelizmente curta, onde se trata da Capacidade Criadora, mais exatamente sobre a Inspiração. Decidi compartilhar essas informações com vocês, pois é um livro difícil de se achar.

Vou citar os trechos dele e fazer comentários em seguida, para deixar mais claro. Todos os textos retirados do livro estão entre aspas, pois assim fica fácil diferenciar quais são as palavras do autor e quais são as minhas. Vamos lá, então.

Segundo Mouly (o autor da obra), é comum que "...a inspiração surja, não enquanto a pessoa a procura ativamente, mas depois de um período em que após tentar obter inutilmente uma idéia, afastou-se de tudo".

Com certeza já aconteceu com muitos de nós: ficamos minutos ou horas tentando resolver algum problema, sem sucesso... e, quando deixamos de pensar nele e nos afastamos totalmente, aparece a inspiração para solucioná-lo!

Mas por que, em tantas vezes, perdemos tanto tempo nessa busca de soluções? Mais adiante, Mouly esclarece: "...quando a pessoa procura deliberadamente uma resposta para seu problema, tende a entrar num beco sem saída e a explorar os mesmos caminhos infrutíferos..."

Ou seja, a pessoa envolve-se demais com o problema (e da maneira errada) e sua mente passa a girar em torno de idéias inúteis e bem parecidas entre si... idéias que ela passa e repassa, sem gostar de nenhuma ("beco sem saída").

Entretanto, notem que Mouly usou a palavra "tende". Ou seja, as pessoas tendem a agir de uma determinada forma, porém nem todas, necessariamente, agirão como o esperado. Certas pessoas conseguem raciocionar com a calma e a distância necessárias, evitando essa armadilha....

Continuando: quando procuramos uma resposta e não achamos, é normal ficarmos nervosos, ansiosos. E, nos diz Mouly, "...quanto mais a pessoa se torna ansiosa, diante da impossibilidade de encontrar uma solução, maiores as chances de que mostre rigidez na forma de enfrentar a questão (visão de túnel) e até a fadiga pode interferir no seu pensamento.".

Aqui está uma imagem para ilustrar esse ponto: quando estamos em um longo túnel, com pouca ou nenhuma luz, não enxergamos nem à direita, nem à esquerda; só vemos uma saída à frente. E ela nos dá a impressão de estar mais longe que na realidade, pois não avaliamos bem as distâncias na escuridão.

Enquanto a pessoa está nesse círculo vicioso (busca de respostas >> falta de solução >> ansiedade), é de se esperar que, em algum momento, se canse e desista: ela afasta-se do problema. Há aqueles que não gostam da palavra desistir, lembra fraqueza, derrota...

Nesses casos, porém, é uma atitude correta. Conforme Mouly esclarece, "...um período de descanso e relaxamento, durante o qual o pensamento divaga livremente...apresenta a oportunidade para o aparecimento de uma nova organização.".

Estando menos apegados ao problema do que antes, o vemos de modos diferentes e isto altera nossos próprios pensamentos a respeito dele, nossa forma de encará-lo ("uma nova organização")...a partir daí, há condições favoráveis para surgir a inspiração!

Aqui, Mouly nos alerta sobre algo importante: "...a inspiração precisa ser avaliada diante da realidade. Por exemplo, é frequente que o criador verifique, ao pensar uma segunda vez, que sua idéia não dará certo, pois deixou de lado algum fator ou princípio básico. A inspiração para o projeto de uma casa deve ser rejeitada quando o arquiteto compreende que sua idéia para uma determinada localização de uma escada seria ideal de um modo, mas péssima de outro.".

Inspiração nem sempre vem como uma solução pronta, como o povo pensa: ela necessita ser trabalhada, adaptada para o objetivo que queremos alcançar... e também devemos nos perguntar se essa idéia, essa inspiração que tivemos, ajuda ou atrapalha nosso objetivo.

Ou seja: é possível que aquela idéia brilhante que nos veio não funcione para a ilustração que estamos fazendo no momento e sim para uma outra. O erro, então, não está na idéia e sim no lugar onde a colocamos.


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