segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Mau começo

Na Idade Média, quem quisesse aprender uma profissão, além de pagar ao mestre pelo aprendizado, tinha que trabalhar de graça para ele durante algum tempo. Era o sistema das Guildas ou Corporações de Ofício, adotado na Europa. Elas eram resultado da mentalidade medieval, que encarava as inovações com desconfiança e o lucro como pecado grave.

Com o tempo, as Corporações de Ofício foram extintas. Quer dizer, não totalmente: pois no Brasil ainda há desenhistas, especialmente iniciantes, acreditando ser obrigatório desenhar de graça Se você pensa dessa forma, é hora de mudar.

O desenhista não é forçado a começar na profissão sem receber. Um conceito desse tipo pertence ao passado. Médicos não começam trabalhando de graça. Nem padeiros, mecânicos ou arquitetos, nem qualquer outra profissão. Estamos no século 21: vamos viver conforme a mentalidade de hoje, não da Idade Média!

Nada se sustenta sem dinheiro: mesmo uma associação sem fins lucrativos necessita obter fundos de alguma forma. E não me diga: "com o desenho é diferente": o desenhista paga contas como qualquer outro trabalhador, pouco importando se ele é novato ou experiente: pois tudo o que você compra já vem com imposto embutido no preço.

Portanto, é justo o desenhista receber. Uma coisa é se ganhar pouco no início; outra, bem diferente, é bancar o escravo. Sim, porque a menos que você esteja prestando um serviço voluntário, para caridade ou coisa similar, estamos falando de escravidão. E da pior espécie, pois é uma escravidão voluntária.

Suponha que você viu um anúncio, onde um estúdio oferece trabalho para um desenhista e você esteja sendo entrevistado pelo dono. Quando digo "estúdio" estou empregando um termo genérico; tanto faz se chamam o lugar de "agência" ou outro nome... e para nossa discussão, é indiferente se você irá trabalhar no local ou em sua casa.

Tenha sempre em mente o seguinte: o dono do estúdio abriu a vaga no interesse dele, por ter uma clientela que lhe pagará pelos serviços de um desenhista. Sem essa clientela ou se houvesse pouca chance de lucro, o dono nem cogitaria em colocar um anúncio.

Portanto, ele não empregará você para "valorizar o artista nacional" ou "dar uma chance à nova geração de desenhistas" (ainda que afirme isso). Acreditar em idéias desse tipo é pura ingenuidade. E independente do quanto a pessoa seja gentil com você, ela defenderá os interesses dela! Você precisa defender os seus e se não quiser, pior pra você.

Só um aproveitador iria propor que você trabalhasse de graça para ele. Ainda que diga: "é só por uns três meses, depois eu começo a te pagar", se não houver um acordo escrito e assinado, nada garantirá o cumprimento dessa promessa.

E é perfeitamente possível que ele o mande embora, ao final desse prazo... para aplicar o mesmo golpe em outra pessoa! Infelizmente, enquanto houver gente que caia nessa, os aproveitadores vão fazer a festa. Acorde enquanto é tempo!


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